"Se quisermos modificar algum coisa, é pelas crianças que devemos começar." (Ayrton Senna)

domingo, 18 de abril de 2010



Todos nós professores, principalmente das séries iniciais, deveríamos compreender como a aprendizagem acontece, para melhor nos instrumentalizarmos, e dessa forma guiar aos alunos na direção da construção verdadeira do conhecimento pela criança. Piaget af irmou em tese que o ser humano constrói a sua aprendizagem individual, o conhecimento produzido pela humanidade. Partindo de suas pesquisas sobre a inteligência infantil e a evolução do pensamento, Piaget formulou a teoria de que na construção do conhecimento nossas estruturas mentais vão se formando num processo de adaptação, onde é necessário que haja um desequilíbrio, ou seja, quando o indivíduo necessita de algo ou tem um problema que está lhe perturbando, ele entra em desequilíbrio e, ao alcançar seu objetivo satisfazendo sua necessidade uma adaptação acontece. Neste processo existem dois momentos distintos: a assimilação, onde o indivíduo utiliza o que já sabe para perceber, organizar e incorporar novos objetos e acontecimentos do meio externo, ampliando assim seus esquemas mentais; e a acomodação, onde as estruturas mentais são modificadas a partir da sua ação sobre o objeto ou fato a ser assimilado. Em seu trabalho, Piaget demonstra que o desenvolvimento da aprendizagem se dá através de quatro estágios sucessivos desde o nascimento até a adolescência:


- Sensório-motor


Do nascimento até por volta dos 2 anos a inteligência é empírica, manifestando-se na forma de ações motoras, aprende-se pela experiência;


- Pré-operatório (Inteligência Simbólica)


No período de 3 a 7 anos, o pensamento é de natureza intuitiva, acontece a interiorização dos esquemas construídos no estágio sensório-motor;


- Operatório Concreto


Entre 8 e 11 anos, já é possível a abstração dos dados da realidade, mas o raciocínio lógico ainda depende de referências concretas, neste estágio se desenvolvem as noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade,...


- Operatório Formal


A partir dos 12 anos, o raciocínio envolve abstrações, não é mais necessário apoiar-se em objetos concretos, o pensamento acontece a partir de hipóteses.


Em cada um destes estágios o indivíduo integra os novos esquemas mentais construídos aos que possuía anteriormente, atingindo assim um equilíbrio mais elevado e passando para o estágio seguinte. Nesta perspectiva a escola deve desafiar e estimular o raciocínio, abandonando exercícios repetitivos e sem sentido, pois a aquisição do conhecimento não é uma simples internalização das informações recebidas em aula, mas um processo de reconstrução autônoma resultante da ação do sujeito na interação com o meio.


A escola, hoje, atropela os estágios de desenvolvimento das crianças, pois os ignora, e continua oferecendo conteúdos descontextualizados, questões e respostas prontas para o aluno, não permitindo que ele faça construções por si só, não disponibiliza o tempo necessário para que ele construa suas hipóteses, acerte, erre e descubra o seu erro, para chegar assim as suas próprias conclusões e consolidar sua aprendizagem. Desta maneira não existe vontade, nem prazer em aprender, pois na maioria das vezes, o conteúdo não interessa, não mobiliza os alunos na busca do conhecimento, fazendo com que estes aceitem a situação de meros receptores de conteúdos impostos. Nesta posição de “tanto faz” o aluno não entra em conflito, em desequilíbrio, não constrói novos esquemas mentais de raciocínio e não tem condições de assimilar e acomodar novos conhecimentos. O sucesso da aprendizagem da criança está diretamente ligado às atividades que esta realizou concretamente e aos esquemas que construiu, desde o nascimento com as ações instintivas até o desenvolvimento do raciocínio abstrato, na adolescência.


Os professores que realmente desejam possibilitar a seus alunos um avanço efetivo na aprendizagem precisam, urgentemente, mudar de atitude frente ao entendimento da construção do conhecimento e ao modo de ver este aluno. Devem assumir uma postura de aprendizes, pois é necessário aprender como se aprende para fazer as intervenções corretas no momento adequado.


É fundamental que ofereçam situações de aprendizagem onde o conhecimento possa ser reinventado e não simplesmente reproduzido mecanicamente após explicações teóricas. Torna-se imprescindível valorizar as descobertas que este aluno faz sozinho, pois mesmo quando chega a uma conclusão errônea significa que ele está elaborando a aprendizagem e logo adiante terá consciência de suas contradições chegando à resposta correta. Além disso, se faz necessário criar espaços de interação e trocas entre os alunos na sala de aula, proporcionando atividades que desenvolvam o pensamento crítico e o espírito de investigação. Promovendo momentos de escuta das perguntas que os alunos trazem, dos seus interesses e anseios, pois o fato de ter dúvidas, questionar-se, pesquisar, perguntar, encontrar respostas, não satisfazer-se com elas e buscar novas respostas é muito produtivo, é neste contexto que as descobertas acontecem e as aprendizagens são construídas efetivamente. Só desta forma, eles poderão entender o meio em que vivem e tomarão as rédeas da construção da sua aprendizagem.




Referências:

BECKER, Fernando. Ensino e construção de conhecimento. Porto Alegre: Artmed, 2001.

CHALON-BLANC, Annie. Introdução a Jean Piaget. Lisboa: Instituto Piaget, 2000.
GOULART, Iris Barbosa. Piaget: Experiências básicas para utilização pelo professor. RJ: Vozes, 2001.

FONTE: NET

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